sexta-feira, setembro 08, 2006

ERA UMA GUERREIRA

Crime - Dor e indignação no funeral de Vanessa Sequeira

Um momento de partilha de dor – foi assim que anónimos, familiares e amigos deram o último adeus à investigadora portuguesa Vanessa Sequeira, assassinada no Brasil e sepultada ontem em Sobrainho dos Gaios, Proença-a-Nova.




LÍDA BARATA
repórter do jornal português Correio da Manhã

Além da dor comum, era também grande o sentimento de indignação pelo brutal homicídio. Cazuza, um investigador brasileiro com quem Vanessa Sequeira conviveu mais de perto no Brasil, nos últimos oito meses, salienta que defendiam “os mesmos valores e as mesmas causas sócio-ambientais, como melhorar as condições de vida das pessoas sem prejudicar a floresta”. Este era o grande objectivo do trabalho que a investigadora portuguesa estava a fazer no Acre, em Rio Branco, na Amazónia brasileira.

O crime – sobretudo pela forma como aconteceu – “foi um choque muito grande para todos no Acre, porque ela era uma pessoa com valores humanos muito fortes, um espírito altruísta muito forte, sacrificando muitos aspectos da sua vida pessoal pelo trabalho. Era uma verdadeira guerreira, não esmorecia com nada e não virava a cara à luta”, conta Cazuza.

“A sua forma de ser, alegre, espontânea, também cativou todas as pessoas, quer aquelas com quem trabalhava, quer as da comunidade junto de quem recolhia as informações para o seu trabalho. Esta notícia e a forma como tudo aconteceu deixou todos muito perplexos, mas todos se mobilizaram e reagiram, angariando cada vez mais gente para propagar os valores que Vanessa tinha e defendia.”

O investigador brasileiro recorda ainda que este ano, “o Dia da Amazónia, dia 5 de Setembro, não teve motivos para ser comemorado. A melhor homenagem que pode ser feita a Vanessa Sequeira é, realmente, continuar a difundir os seus valores”, reiterando que “ela era muito querida por todos, tanto que a população de Rio Branco realizou uma missa em seu sufrágio”.

Apesar de o momento ser mais propício ao “silêncio e oração” – como disse o padre que celebrou as exéquias – alguns amigos deixaram mensagens muito sentidas. Lee Dawson, um investigador que regressou há três semanas do Brasil – onde esteve com Vanessa Sequeira –, contou que a “amiga” lhe propôs um pacto antes de ele voltar: “Um dia vamos sentar-nos à beira-mar, com os nossos sonhos todos realizados.” E se os sonhos da jovem investigadora se desvaneceram, o maior do amigo é fazer uma escola para meninas de rua, à qual dará o nome da portuguesa, em sua homenagem.

Joana Borges Coutinho também enalteceu as qualidades da amiga: “A Vanessa era uma mulher forte, determinada, teimosa, alegre, amiga, misteriosa, correcta, inesquecível. Na vida como na morte, representou a essência do feminino e a ingratidão de se ser mulher.” Apesar de confessar que nenhuma das duas era particularmente religiosa, leu a Oração de São Francisco, palavras que costumavam dar alento à investigadora.

Na missa e no cortejo fúnebre, marcado pela dor e pesar, estiveram presentes familiares, muitos populares, o anterior e o actual presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, o presidente da Junta de Freguesia do Alvito, representantes dos Bombeiros Voluntários do Estoril, instituição da qual o pai é vice-presidente, e também alguns colegas de trabalho e amigos de Vanessa Sequeira.

SUSPEITO FOI PARA UM POÇO
Numa tentativa de apagar vestígios do crime, Raimundo Nonato Rocha Lima, acusado da morte de Vanessa Sequeira – violada e assassinada domingo no município de Sena Madureira, no estado brasileiro do Acre – ficou mais de uma hora dentro de um poço a tentar limpar o sangue da vítima.

A informação foi dada à Polícia pela mulher do suspeito. Raimundo Nonato – que na manhã do crime tinha bebido durante muito tempo e brigado com familiares antes de desaparecer por horas – estava descontrolado e cheio de sangue na roupa ao regressar a casa ao final da tarde . Terá comentado apenas: “Acabei de fazer uma grande bobagem.” Depois, enfiou-se vestido dentro de um poço no quintal da casa, onde esteve mais de uma hora.

Mesmo assim, não conseguiu tirar todo o sangue da roupa, tal a quantidade e a forma como se tinha impregnado.

DETALHES DO CRIME

PROVAS
Na segunda-feira, a Polícia encontrou as roupas do suspeito, já detido, com o sangue da investigadora portuguesa. Este dado e as amostras de sémen recolhidas no corpo, poderão constituir as principais provas de culpa, assim que estiverem concluídos os exames de ADN.

NEGA
Por enquanto, Raimundo continua a negar o crime. Umas vezes garante que não violou e matou Vanessa Sequeira, noutras diz que, se foi, não se lembra de nada. A Polícia do Acre não tem, no entanto, qualquer dúvida da sua culpa. Só espera os testes de ADN para formular a acusação.

DESPEDIDA
A Igreja de Sobrainho dos Gaios (Alvito), no concelho de Proença-a-Nova, foi pequena para acolher todos aqueles que ontem quiseram participar no último adeus à investigadora portuguesa, assassinada domingo, no Brasil.
Fonte: Blog do Altino

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