terça-feira, setembro 05, 2006

CARTA DE UMA AMIGA DE VANESSA

Com grande choque e tristeza que recebo suas notícias terríveis da morte violenta de Vanessa. É dificil acreditar que neste Acre que todos nós trabalhamos com bastante tranquilidade durante todos estes anos possa acontecer uma coisa destas!!

Tive o grande prazer de trabalhar um pouco com Vanessa. Ela era uma pessoa maravilhosa, cheia de vida, de paixão e de uma sede muito inteligente de enteder as coisas na Amazônia e no mundo. Vi ela lutar com a pesquisa, sempre se esforçando de fazer um trabalho de melhor qualidade e de relevância para as pessoas do Acre. Também vi ela lutando com os seus instintos de "guerreira solitária". Estou imensamente triste que esta pessoa maravilhosa foi arrancada desta forma cruel e violenta do nosso mundo. É a incarnação do pior pesadelo de qualquer pesquisadora.

Desde muito jovem ela embarcou nesta vida, fazendo trabalhos no Brasil (Nordeste), na Índia, trabalhando durante anos em Puerto Maldonado/Peru, na Costa Rica, e, finalmente, no Acre. Um vida muito rica de experiências e aventuras. No entanto, bem distante da familia, com orçamentos apertados (nada de investimentos na aposentadoria), com grandes dificuldades de manter relações afetivas a longas distancias.

Sei muito bem o que é isso, porque vivo com as mesmas tensões com a minha própria família na Suiça e a constante má conciência associada. Mas sei de uma coisa: Vanessa tinha paixão por esta vida "tropical" e tinha um compromisso muito forte com produtores rurais na Amazônia, a conservação das florestas e a melhora da qualidade de vida - apesar dos sacrifícios pessoais e a distância que isto significava.

Que eu saiba o caminho do doutorado também não foi nada fácil para Vanessa que sempre se sentiu dividida entre ação concreta de uma ONG e a organização de base, e o trabalho mais teórico acadêmico. Um tempo atrás ela desistiu e teve uma crise geral sobre qual caminho embarcar. Mas ela voltou e decidiu de encarar o doutorado e o Acre. Receio que isto vai ser muito dificil para os pais, de pensar que ela "quase" não voltou para o Acre e optou por uma outra vida.

Abraços com grande tristeza,

Christiane Ehringhaus
Pesquisadora Alemã que fez seus estudos de mestrado e doutorado no Acre e participante da Rede de Pesquisadores em Reservas Extrativistas. Atualmente reside em Belém trabalhando com o CIFOR e coordena projetos na Amazônia, inclusive no Acre.

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