terça-feira, setembro 05, 2006

Carta de um amigo de Vanessa

Caros colegas,
Abaixo uma carta do amigo Cazuza que esta aqui na Flórida agora e é meu vizinho. Vanessa era uma grande amiga dele. Eu tive a dolorosa tarefa de falar para ele o acontecido quando ele estava na mesa para almoçar com outros colegas.


Incapacidade, impotência, tristeza, muita tristeza. E este misto de sentimentos que passaram a tomar conta de mim desde esta segunda-feira a tarde, quando fui golpeado com a notícia da barbarie sofrida pela minha amiga Vanessa Sequeira.

Vanessa, uma jovem pesquisadora potuguesa de 36 anos, foi brutalmente assassinada enquanto cumpria mais uma etapa de sua importante pesquisa necessaria a defesa da amazônia e sua gente.

Conhecia-a em meados de fevereiro deste ano e desde então uma crescente amizade e afeto foi sendo cultivada entre nós, que nem a distância física em que nos encontravamos a dois meses foi suficientemente grande para atrapalhar. Pareciamos ligados a muitos anos.

O que me aproximava dela era seu imenso valor humano, que me parece estar perdendo terreno em nossa sociedade para a brutalidade, para a falta de sentido da vida, ou mesmo para um sentido banal dela.

Vanessa era uma daquelas pessoas com sentidos de amor ao próximo, de solidariedade, de preocupação social que deveria estar norteando o comportamento de todos nós, neste novo milênio.

Enquanto pesquisadora sua principal preocupação era a formação de capital social, durante seu trabalho. Sempre encorajou estudantes e recem formados a participarem de sua pesquisa, mesmo sendo capaz de desenvolvê-la sozinha. Sempre procurou proporcionar as famílias nas comunidades que visitava conhecimentos que fossem capazes de ajudá-las, mesmo após a conclusão de sua pesquisa. Sempre trabalhou de forma transparente, envolvendo a comunidade e superando os mais diversos obstáculos que teriam feito muitos desistirem do trabalho.

Fico me perguntando por que alguém coberta de valores como estes, com tanta motivação e enegia, para defender causas justas como a da Amazônia e sua gente tem sua vida drasticamente interrompida por um crime tào brutal. Até quando ouviremos barbáries como esta?

Não sei se algum dia teremos respostas para acontecimentos como este, mas estou certo que não serào atos como estes que perpetuarão em mim os sentimentos que descrevi no inicios destas linhas.

Tenho plena fé e convicção que eu e muitos outros, que nos indignamos com a falta de bons valores neste milênio, iremos continuar lutando para que não sejamos mais surpreendidos com notícias como esta.

A você, leitor, desejo que não perca sua capacidade de indignação e reação com as injustiças da vida. A Vanessa, sua familia, amigos e amigas desejo muita luz e que alcancem a paz necessária neste momento. Isto é o que consigo externar diante de tamanha tristeza.

Cazuza (Eduardo Amaral Borges)
Pesquisador e Extensionista do PESACRE

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