quarta-feira, março 29, 2006

Tropilunch no TCD

Caros colegas da Rede,
O Tropilunch ou almoço tropical é um encontro semanal de apresentações de estudantes e professores que trabalham em regiões tropicais aqui no Programa de Conservação e Desenvolvimento Tropical (TCD) da Universidade da Flórida. São, no geral, apresentações sobre resultados de pesquisas, projetos em desenvolvimento e/ou um tópico acadêmico emergente. Um ambiente amigo ondes todos tentam contribuir de forma positiva às apresentações. Um ambiente de discussão informal no qual os participantes aproveitam para almoçar durante a apresentação, como o nome sugere. A pressa do horário leva muitos a passarem na praça ao lado do prédio e agarrarem um prato de comida vegetariana dos Hare Khrishna, pela bagatela de apenas três dolares como “doação”. Eu sempre tento levar minha marmita com o velho e tradicional arroz com feijão e, claro, uns bons pedaços de bife escondidinhos por baixo de uma camada amarelada de farinha de Cruzeiro do Sul. Aliás, meu estoque de farinha acabou recentemente. Mãããe!!!

Pois bem, ontem (28/03) eu e Christopher Baraloto fizemos uma apresentação da proposta da Rede de Pesquisadores em Reservas e eu gostaria de relatar alguns comentários vindo da audiência para vocês. Visto as dificuldades de acessar informações sócio-econômicas de muitas das Reservas, uma sugestão a princípio para tentar traçar pararelos sobre dados demográficos foi acessar a base de dados da IBGE sobre os municípios dos diferentes estados onde as Reservas estão localizadas. Isto, no mínimo, nos daria uma primeira idéia de pressão populacional nestas áreas, embora agregada a nível municipal. Outra sugestão foi de incluir e/ou pensar um maior número de variáveis políticas como forma de avaliar quais os estados que atuam com políticas mais favoráveis ao modelo de Reservas. Nesta mesma direção, outra sugestão foi de incluir uma variável institucional sobre as agências federais e estaduais ligadas a administração destas áreas, verificando se estas agências têm representação nos municípios ondem as Reservas estão localizadas. Da mesma forma, articular a comparação entre as reservas federais e estaduais, atentando especialmente para as razões da opção política de alguns estados de investir mais na criação de reservas estaduais, que são, no geral, mais vulneráveis politicamente a longo prazo. Em outras palavras, pode existe muitos motivos diferenciados pela opção entre reservas estaduais vs federais. Um dos motivos importantes para criacão de Reservas, seguindo o conceito original, é a pressão do movimento social e a existência de conflitos entre grupos disputando o acesso a terra. Assim, uma variável sugerida para inclusão no banco de dados foi o número de assassinatos no campo nos municípos abrangidos pelas Reservas. A Comissão Pastoral da Terra produz bons relatórios sobre violência no campo que podem ser acessados. Outra sugestão da audiência foi de desenvolver formas de estimar o estado de conservação ambiental das Reservas, considerando diferentes contextos sociais, políticos e geográficos. Por exemplo, em muitas regiões da Amazônia, Reservas são criadas em áreas isoladas, que virtualmente, não demandariam a implantacão do modelo com sentido estrito de conservação ambiental. Em outras, porém, as Reservas são criadas em áreas de fronteira de expansão, onde o aspecto de conservação ambiental é mais premente. Uma sugestão final foi relacionada à atividade produtiva, visando caracterizar as Reservas em relação aos diferentes sistemas de produção. Por exemplo, mesmo nas Reservas onde as atividades extrativistas são mais evidentes, elas diferenciam-se de acordo com o contexto específico de cada estado. Por exemplo, as atividades extrativistas nas Reservas do Acre são diferenciadas em muitos aspectos daquelas desenvolvidas em Reservas do Pará.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma fonte de dados sobre população interessante também são os cadastros do INCRA para recepção dos créditos de habitação e fomento ao qual todos os moradores de RESEXs tem direito. Como envolve recursos, o INCRA pode ter isso organizado...
Em relação aos conflitos como motivo condutor para criação de resexs, aqui no Amazonas é possível distinguir dois “padrões”. O primeiro é o conflito entre patrão e castanheiro ou seringueiro e seringalista, que pode ser comumente encontrado em toda a região do Rio Purus. O segundo tipo é comum nas áreas de expansão da fronteira agrícola, Apuí, Novo Aripuanã, Sul de Lábrea, Humaitá, Manicoré e ocorre entre grileiros e castanheiros. O que vocês acham de discutir esses “padrões”?
Vocês pensam em discutir a tomada de decisão em relação a criação de RESEX ou RDS?

Mary Allegretti disse...

Leonardo
Vale a pena checar essa informação com o INCRA, sim. Estes dois padrões de conflitos estão nos estudos do Acre e, à medida em que a fronteira se expande no Amazonas, se reproduz ali. Não necessariamente com os mesmos parâmetros, inclusive porque os tempos são diferentes. Acho que é um excelente começo de uma pesquisa. Mason Mathews, orientando de Marianne Schmink e meu aluno no semestre passado, está interessado em fazer em seu doutorado. Ele deverá procurar você. Por favor envie sua ficha de pesquisador para o blog.

Nós estamos interessados em estudar tanto Resex quanto RDS. Um abraço e obrigada pelo comentário, Mary Allegretti