quarta-feira, março 29, 2006

Membro - Mariana Ciavatta Pantoja


Mariana Pantoja é antropóloga, doutora pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP (Brasil). Nos últimos 15 anos vem trabalhando no Acre, mais particularmente na região do Alto Juruá, onde já viveu por dois anos, período no qual, além de atuar como pesquisadora, assessorou a Associação dos moradores da Reserva Extrativista do Alto Juruá em seu processo de estruturação e organização comunitária. Atualmente mora em Rio Branco, capital do Acre, onde é professora da Universidade Federal do Acre(UFAC).

Como fruto da sua tese de doutorado publicou, em 2004, o livro "Os Milton.Cem anos de história nos seringais" (Editora Massangana/Fundação Joaquim Nabuco, Recife), onde conta a saga de uma família de seringueiros do Alto Juruá ao longo de um século, desde a abertura dos seringais e perseguições aos povos nativos até a luta dos seringueiros contra os patrões pela criação da Reserva Extrativista do Alto Juruá. Mesclando história e antropologia, trabalhando questões clássicas, como família e parentesco, e estabelecendo um diálogo com as narrativas dos membros da família, Mariana, num texto de várias vozes, reconstitui a trajetória familiar do grupo chefiado por seu Milton Gomes da Conceição e mostra como as relações de parentesco, mais do que um dado genealógico, são construídas pela convivência, pelo compartilhar de experiências e pela afetividade.

Mariana participou de diversos projetos de pesquisa e levantamentos na Reserva Extrativista do Alto Juruá. Em 1991, coordenou uma das equipes que cadastrou os moradores da Reserva e realizou um primeiro levantamento sócioeconômico da área. A partir de 1993, integrou a equipe do projeto de pesquisa interdisciplinar "Can Forest Dwellers Self-Manage Conservation Areas? A probing experience in the Upper Juruá Extractive Reserve", coordenado pelos profs. Mauro Almeida, Manuela Carneiro da Cunha e Keith Brown, e que teve como um de seus produtos o livro "Enciclopédia da Floresta. Alto Juruá: Práticas e Conhecimentos das Populações” (SP, Cia. das Letras, 2002). Ainda no âmbito deste projeto, e partindo do pressuposto que é fundamental a participação efetiva da população na gestão da Reserva, a equipe de antropólogos deu início a um trabalho de pesquisa e monitoramento participativo, envolvendo a população local, capacitando monitores, criando e testando métodos adaptados de monitoramento do ecossistema e da qualidade de vida. Este trabalho, sempre executado em parceria com os atores locais e suas organizações, continua até os dias de hoje, embora com alguns períodos de interrupção nesse período.

Mariana também está atualmente envolvida num outro projeto interdisciplinar, coordenado por Mauro Almeida e Laure Emperaire e intitulado "Agrobiodiversidade e Conhecimentos Tradicionais Associados na Amazônia". O objetivo do projeto é, frente a um contexto global de erosão genética, entender a importância das plantas cultivadas na vida de populações tradicionais, seus circuitos de troca e reciprocidade e elaborar propostas visando a conservação dessa diversidade, a transmissão dos conhecimentos a ela associados com direitos reconhecidos e acesso a benefícios por parte de seus detentores. Seguindo as determinações da atual legislação sobre acesso a conhecimento tradicional associado, a primeira atividade da equipe foi o estabelecimento de termos de anuência prévia e informada com comunidades locais. Em fevereiro de 2006, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN/MMA) deu autorização legal para a execução do projeto.

A experiência de Mariana inclui ainda consultorias diversas seja para orgãos governamentais (IMAC e ProVarzea/IBAMA) e não governamentais (o extinto Instituto Nawa e WWF). Neste contexto não-governamental, coordenou o projeto de certificação florestal do couro vegetal produzido na Floresta Nacional Mapiá-Inauini (AM) e os primeiros levantamentos socioambientais realizados na região do rio Croa (AC), onde está em curso a criação de uma Reserva Extrativista. Na foto, ela aparece ao lado de seu Antonio de Paula, do Conselho Nacional dos Seringueiros, numa viagem de campo ao Croa. Contato: maripantoja@uol.com.br

Um comentário:

a vida é bela disse...

Acabei de ler Os Milton: cem anos de história nos seringais. Estou maravilhada com a qualidade e sensibilidade da trajetória da pesquisa, e também com a luta dessa família. Parabéns pela bela descrição do cotidiano, que poucos, na academia e fora dela sabem fazer!!!
Abraços,
Vanessa Paes.