Este é o primeiro espaço para divulgação de informações da "Rede de Pesquisadores em Reservas Extrativistas". Esta é uma iniciativa de pesquisadores, porém aberta a outros profissionais. Temos como objetivos (i) criar um espaço para divulgação e troca de informações sobre Reservas Extrativistas, (ii) desenvolver pesquisas colaborativas para subsidiar políticas públicas para Reservas Extrativistas e o diálogo com o movimento social. Envie-nos um e-mail para seu registro na rede.
quarta-feira, dezembro 06, 2006
Consultoria - Reserva Extrativista Do Médio Juruá
CARGO:
Consultor - 01 (uma) vaga.
QUALIFICAÇÕES:
Profissional com formação em ciências sociais, biológicas, agronomia, antropologia, geografia ou afins, preferencialmente com mestrado;
Experiência de pelo menos dois anos em projetos com ênfase em participação comunitária e na região amazônica; preferencialmente dois anos de experiência em mapeamento do uso dos recursos naturais; experiência em trabalhos de equipe;
Amplo conhecimento de estratégias de elaboração de Plano de Manejo de Unidades de Conservação de Uso Sustentável;
ATRIBUIÇÕES:
Levantar informações sobre o uso dos recursos naturais na RESEX do Médio Juruá e entorno através de oficinas de mapeamento participativo, indicando potencialidades e desafios;
Revisar e atualizar o Plano de Utilização e as regras de convivência da RESEX;
Sistematizar os dados existentes em forma de diretrizes para o Plano de Manejo da RESEX;
Elaborar e consolidar o Plano de Manejo (Fase 1) da RESEX do Médio Juruá, de acordo com as diretrizes estabelecidas no “Roteiro Metodológico para elaboração do Plano de Manejo de RESEX e RDS federais” (IBAMA, 2006).
DURAÇÃO DO CONTRATO:
6 (seis) meses.
Os currículos deverão ser enviados com o valor pretendido pelo serviço, até o dia 09/12/2006, por email ou endereço a seguir:
Paula Soares Pinheiro
IBAMA
Rua Arcanjo Pessoa, 100
Centro – Carauari/AM
CEP 69.500-000
email: pspinheiro@gmail.com
domingo, outubro 22, 2006
Projeto leva internet para moradores de RESEXs no Amazonas
quinta-feira, outubro 12, 2006
Resex avançam, mas situação de ribeirinhos ainda é precária
10/10/2006
A terceira reportagem do Especial publicado pelo ISA sobre a Terra do Meio, no Pará, revela que as duas reservas extrativistas criadas na região estão dando seus primeiros passos por meio de operações de fiscalização, reuniões comunitárias e expedições organizadas pelo Ibama. No entanto, a situação de abandono de ribeirinhos mudou pouco e o problema fundiário de muitos deles ainda precisa ser resolvido.
As duas Reservas Extrativistas (Resex) da Terra do Meio, no Pará, começam a dar os primeiros passos no caminho de sua consolidação, mesmo que lentamente. Com uma série de dificuldades, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vem tentando monitorar as duas áreas e prestar apoio aos seus moradores. O presidente Lula decretou a Resex do Riozinho do Anfrísio, em novembro de 2004, com 736 mil hectares, e, em junho último, a Resex do Iriri, com 398,9 mil hectares.
De lá para cá, a prefeitura do município de Altamira, onde estão localizadas as duas áreas, contratou agentes comunitários de saúde e técnicos para realizar testes de malária – mas só depois de uma reclamação do Ministério Público Federal (MPF). Desde meados do ano passado, o Ibama organizou reuniões comunitárias e expedições para cadastramento, emissão de documentos, atendimento médico e esclarecimento da população. Também foram realizadas algumas operações de fiscalização. O Exército esteve presente por algumas semanas na Resex do Riozinho do Anfrísio para garantir a segurança de lideranças ameaçadas por defender suas terras.
As medidas foram tomadas depois de fevereiro de 2005, quando o governo federal criou a Estação Ecológica (Esec) da Terra do Meio e o Parque Nacional (Parna) da Serra do Pardo, também na região. As duas UCs foram parte do pacote ambiental lançado em resposta à série de assassinatos de trabalhadores rurais e líderes do movimento social no Pará, em especial, da freira missionária Doroty Stang, no dia 12 daquele mês. A decretação das áreas e as primeiras ações do governo fizeram cair, pelo menos em um primeiro momento, o desmatamento, o preço das terras no mercado local de grilagem e o número de denúncias de casos de violência praticada por grileiros contra os "beiradeiros", como são conhecidos os ribeirinhos.A situação de abandono dos moradores da região, no entanto, mudou pouco. O quadro de saúde das cerca de 200 famílias que vivem na Terra do Meio é grave: o índice de mortes por doenças como pneumonia, malária e diarréia, por exemplo, é alto. O atendimento médico ainda é raro e o transporte de pacientes é muito difícil – algumas localidades ficam a mais de quatro dias de viagem de barco de Altamira, cidade mais próxima. O analfabetismo beira os 100%, mas ainda não se sabe quando serão construídas escolas no local. Muitas pessoas continuam sem documento de identidade (saiba mais).
Comunidades começam a se organizar
A figura da Resex garante legalmente a conservação dos recursos naturais, as atividades econômicas e a posse coletiva da terra das populações tradicionais (seringueiros, castanheiros, babaçueiros, caiçaras, sertanejos etc). A regularização fundiária propiciada por esse tipo de UC de uso sustentável facilita o acesso ao financiamento agrícola, programas de segurança alimentar e investimentos na produção local - a informação vem sendo divulgada com a ajuda do Ibama, fazendo com que as comunidades tomem consciência de seus direitos. Com intermediação do MPF e de organizações da sociedade civil, elas já desenvolvem iniciativas de geração de renda e começam a cobrar o acesso a saúde, educação e segurança.
Na Resex do Riozinho do Anfrísio, um pequeno projeto de apoio ao agroextrativismo está sendo financiado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) desde o ano passado. Foram distribuídos quatro motores de popa e equipamentos para extração e beneficiamento da copaíba e da andiroba. Dois barracões já foram construídos e, nas próximas semanas, devem ser erguidos mais dois. As edificações poderão abrigar futuras escolas, vão servir para reuniões comunitárias e para armazenamento da produção das 47 famílias de beiradeiros da reserva. O Ibama também deverá construir uma pequena base no local, nos próximos meses.
Apesar do otimismo de vários moradores, fontes do próprio Ibama lembram que grupos de Trairão e Rurópolis, municípios próximos, continuam desmatando nos limites da Resex. De acordo com dados do Laboratório de Geoprocessamento do ISA, o desmatamento teria aumentado no interior da área na ordem de 198% na comparação entre 2002-2004 e 2004-2005 (confira tabela abaixo). Um garimpo voltou à atividade nas últimas semanas. Apenas um funcionário foi designado para cuidar da reserva, quando seriam necessários pelo menos três. A falta de pessoal limita o gasto do dinheiro que já está liberado para a UC. Dos R$ 760,7 mil previstos no Plano Operativo Anual (POA) de 2006, elaborado pelo Programa de Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa), apenas R$ 130 mil haviam sido usados até o final de setembro, pouco mais de 17% do total.O Ibama argumenta que e a demora nos trâmites para a contratação de serviços e a compra de equipamentos, além da dificuldade de acesso na época da seca, quando os rios ficam muito baixos, também estariam emperrando a implementação da reserva. Desde agosto, não se tem informações sobre o desmatamento porque o técnico responsável pelo monitoramento via satélite da Resex está fora, em operações de campo. A gerência-executiva do Ibama em Altamira garante que deve ocorrer uma operação de fiscalização contra desmatamentos e garimpos clandestinos nos próximos meses.
Trabalhos engatinham no Iriri
Na Resex do Iriri, criada há poucos meses, os trabalhos estão engatinhando. Um funcionário ainda não foi nomeado para cuidar da área. Até o final de setembro, não havia sido gasto nenhum centavo dos R$ 685 mil disponibilizados pelo Arpa para este ano. A previsão é que uma equipe de saúde paga pela prefeitura de Altamira suba o rio Iriri nas próximas semanas.
De acordo com Paulo Rodrigues Cambuí, presidente da Associação dos Moradores da Resex do Iriri, um invasor que desmatou e está ocupando 1,5 mil alqueires dentro da reserva realizou recentemente um novo desmatamento de 180 alqueires. Cambuí afirma que notificou o Ibama sobre o problema, mas nada foi feito até agora. “Desde janeiro, não recebemos a visita de uma equipe de fiscais. Eles dizem que não têm recursos para nos atender. Não sei mais a quem me dirigir.”
No meio de setembro, Paulão, como é conhecido, foi até Altamira prestar depoimento ao MPF e à PF sobre a atuação de pistoleiros. Alguns dias antes, dois homens armados desceram o rio Iriri, rondando a sua casa e intimidando outros moradores. Paulão conta que uma pessoa chegou a lhe dizer no rádio que ele deveria deixar a presidência da associação e que sua vida estaria valendo R$ 50 mil. “Essa pessoa, que não conheço e não se identificou, me disse que quando minha cabeça estivesse valendo R$ 100 mil viria atrás de mim”. Segundo o ribeirinho, neste caso, até agora também não foi tomada nenhuma providência por parte das autoridades.
Terra do Meio continua ameaçada
Representantes do movimento social e de organizações não-governamentais avaliam que a Terra do Meio continua ameaçada por madeireiras e fazendas ilegais e que algumas atividades ilícitas já teriam sido reiniciadas. O receio é de que o governo não tenha condições de manter presença efetiva para inibir a ação dos criminosos. Tarcísio Feitosa, membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Altamira, confirma que as mudanças ainda são muito pequenas na vida dos beiradeiros. “Mudou alguma coisa porque as três esferas de governo e a sociedade brasileira agora sabem que essa população existe, mas em campo a situação não se alterou muito”. Ele conta que algumas “fazendas” voltaram recentemente à atividade nas duas Resex, com realização de desmatamentos e queimadas ilegais. O Ibama foi comunicado do problema, mas até agora não tomou nenhuma providência. Feitosa está descrente de uma ação mais enérgica do Poder Público na região para combater os crimes ambientais.
O próprio coordenador do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Populações Tradicionais (CNPT) do Ibama, Alexandre Cordeiro, teme a retomada do desmatamento quando “baixar a poeira” da decretação das áreas. Ele admite que as ações do governo na região ainda são limitadas. “Estamos com uma presença ainda insuficiente. O Estado brasileiro não botou o seu dedo ali. Não temos cidadania plena ali. Não temos controle do espaço. Ainda é terra de ninguém.” O servidor acredita que a falta de pessoal só deve ser resolvida no início do ano que vem, com o ingresso de 50 analistas ambientais recém-concursados no CNPT. Destes, cinco seriam destinados às Resex do Riozinho do Anfrísio e do Iriri.
Cordeiro informa que estão sendo investidos recursos em pequenas operações de fiscalização, no mapeamento das posses irregulares existentes nas reservas(primeira fase no processo de regularização fundiária), na capacitação e na mobilização da comunidade. O consultor responsável pelo diagnóstico rural participativo e pelos estudos para criação do conselho deliberativo da Resex do Riozinho do Anfrísio já foi contratado e o contrato para a realização do trabalho no Iriri deve ser fechado nas próximas semanas. O colegiado deve ser composto por representantes das diversas localidades, que precisam receber uma formação mínima. É o primeiro passo para a elaboração e a execução do plano de manejo da Resex e para a assinatura do contrato de concessão real de uso aos ribeirinhos, etapa final da regularização fundiária.
Negociações paralisadas
Enquanto os moradores do Riozinho do Anfrísio e do Iriri pelo menos conseguiram avançar na solução de seu problema fundiário com a decretação das Resex, a situação de outras quase cem famílias de beiradeiros espalhadas pela Terra do Meio ainda precisa ser resolvida. Alexandre Cordeiro afirma que o governo pretende oficializar, até o fim do ano, a Resex do Médio Xingu na faixa de 100 quilômetros ao longo do rio, totalizando uma área de 303 mil hectares, onde moram cerca de 50 famílias. Os estudos para o decreto da UC estariam sendo finalizados. Já os ribeirinhos que vivem nas UCs de proteção integral, que não permitem moradia, e na Terra Indígena Cachoeira Seca terão de deixá-las. Muitos, porém, ainda não foram convencidos a fazê-lo e resistem à idéia. As negociações para a transferência das famílias estão paralisadas. Segundo Cordeiro, o CNPT aguarda, há alguns meses, que a Diretoria de Ecossistemas (Direc) do Ibama elabore os termos de compromisso que autorizam a permanência temporária em suas posses e garantem o reassentamento em outras terras. No caso da Terra do Meio, esses moradores deverão ser fixados nas duas Resex já criadas e na outra que deve ser instituída nos próximos meses. A legislação também obriga o Ibama – e a Fundação Nacional do Índio (Funai), no caso da TI – a indenizar as benfeitorias construídas de boa fé.
Source: Instituto Socio-Ambiental
terça-feira, outubro 03, 2006
WWF-Brasil: Discussão sobre RDS
Por que uma área é decretada como RDS e não como RESEX? As RDS abrigam populações tradicionais; mas quais são os critérios para definir essa “tradicionalidade”? Quais são as atividades econômicas admitidas numa RDS? Mineração pode? É necessária a anuência formal da comunidade para a sua criação? Propriedades privadas são permitidas em seu interior? Quem são os responsáveis pela gestão e pela administração dessas áreas?
Com este debate, o WWF pretende dar ensejo à formulação de um documento-base que subsidie os órgãos governamentais executores do SNUC no processo de regulamentação dessa categoria de unidade de conservação. O WWF Convida o público especializado e demais interessados a se manifestarem enviando contribuições no prazo de 15 dias.
Para participar, clique aqui ou envie um email para consultards@wwf.org.br
Tese de Doutorado de Mônica M. Barrozo
Resumo
Esta tese investiga a relação entre comunicação popular participativa e os meios de vida de povos da floresta, através do detalhado estudo de caso do município de Gurupá (Estado do Pará, Amazônia Brasileira), e sua experiência com rádio-comunicação (rádio comunitária e rede de rádio-transmissores). A abordagem da tese une de forma inédita a literatura existente sobre comunicação para o desenvolvimento à escola de pensamento sobre meios de vida (livelihoods), com o objetivo de explorar a significância da informação e da comunicação em ambientes florestais. Inicialmente, o estudo revisa o crescente interesse global no conceito de participação, e em particular as relações entre este conceito e a recente agenda sobre comunicação para o desenvolvimento. Em seguida, são apresentados os principais debates acerca do pensamento sobre meios de vida, tanto do ponto de vista teórico, quanto sob a perspectiva da aplicabilidade prática desta abordagem no nível das políticas públicas. Finalmente, as duas noções apresentadas (comunicação para o desenvolvimento e meios de vida) dão origem ao framework 'comunicação-meios de vida' - produto teórico do projeto de pesquisa que auxiliou e moldou e coleta e análise de dados.
Após apresentar as principais características dos meios de vida na floresta amazônica brasileira em geral, e especificamente em Gurupá, a tese analisa os dados coletados durante a pesquisa de campo. Através de uma combinação de métodos qualitativos, a presença do rádio foi detectada tanto na esfera produtiva quanto não-produtiva dos meios de vida da população local. Mais ampla vigilância local de recursos naturais, mais fácil acesso aos mercados consumidores de produtos florestais, melhorias no atendimento de saúde, melhores níveis de informação, e redes sociais e políticas fortalecidas foram alguns dos temas associados ao uso do rádio. Embora a maior parte dos pressupostos da pesquisa tenha sido confirmada, alguns fatores críticos foram identificados, tais como a falha legislação que regula o funcionamento das rádios comunitárias, o limitado alcance de rádios populares (tanto rádios comunitárias como rádio-transmissores), e a sub-utilização da pouca infra-estrutura existente. A tese conclui algumas observações teóricas e político-práticas sobre comunicação e meios de vida, levanta uma série de considerações para pesquisas futuras, e finaliza com uma breve reflexão sobre o papel da comunicação no futuro da Amazônia.
Estrutura da Tese
Este estudo está estruturado em nove capítulos, começando com uma introdução à lógica e ao contexto da pesquisa (Capítulo 1). No Capítulo 2 há uma revisão sobre os principais debates referentes à comunicação e desenvolvimento, com os principais meios de comunicação utilizados para operacionalizar os princípios inerentes à comunicação para o desenvolvimento, dando especial ênfase ao rádio, identificado como o veículo de comunicação popular mais relevante no contexto estudado. O Capítulo 3 é dedicado à discussão e análise da evolução do pensamento sobre meios de vida. Em particular, nesta seção são exploradas as relações e as diferenças entre abordagens teóricas sobre meios de vida rurais e as formulações políticas referentes à teoria dos meios de vida, como por exemplo a abordagem de meios de vida sustentáveis. Ainda neste capítulo as duas discussões teóricas são fundidas em um único framework (comunicação-meios de vida), dando origem ao instrumento de análise utilizado para o processamento dos dados coletados em campo.
O objetivo do Capítulo 4 é apresentar a lógica metodológica adotada durante o projeto de pesquisa. Nele se encontram as perguntas e o foco da pesquisa, bem como a estratégia utilizada, incluindo as fases de planejamento, coleta, análise e avaliação dos dados, além da redação final da tese. Os Capítulos 5 e 6 apresentam, respectivamente, o panorama geral da geopolítica da Amazônia Brasileira, o contexto geográfico da pesquisa, e a localidade do estudo de caso, Gurupá. Esta descrição da principal localidade da pesquisa de campo oferece ao leitor uma base de conhecimentos sobre as redes de comunicação e de instituições locais que facilita o entendimento da relevância da rádio-comunicação a ser analisada nos capítulos que seguem.
Os Capítulos 7 e 8 consistem na apresentação e análise dos dados coletados em campo. Além de entrevistas, o corpo de dados é composto por mensagens transmitidas pela rádio comunitária local e por conversas pela rede local de rádio-transmissores (o conhecido rádio-amador). A análise dos conteúdos dos dados demonstrou a importância da comunicação por rádio em aspectos produtivos (e.g. economia florestal, vigilância e regularização fundiária, uso produtivo de recursos naturais) e não produtivos (e.g. integração sócio-cultural, saúde, educação, organização comunitária e mobilização política) dos meios de vida locais. Estas duas esferas são discutidas em detalhe com base na evidência coletada. Para concluir, o Capítulo 9 sintetiza uma série de implicações teóricas e político-práticas dos resultados da investigação, e finaliza com uma reflexão sobre a significância deste estudo para um melhor entendimento sobre o potencial papel da comunicação para o desenvolvimento, bem como para o futuro e sustentabilidade da Amazônia.
Visite o site amazonia.org para fazer o download completo da tese. Parabens Mônica!!
quarta-feira, setembro 27, 2006
Ibama reúne coordenadores de Resex no Pará
26/09/2006
O diretor de Desenvolvimento Socioambiental do Ibama, Paulo Oliveira, juntamente com técnicos do Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais (CNPT) e coordenadores de 17 Reservas Extrativistas (Resex) Marinhas e Florestais e de reserva de Desenvolvimento Sustentável reuniram-se em Belém (PA), de 19 a 20 de setembro, para avaliar ações do Ibama nessas Unidades de Conservação (UCs).
Os participantes trataram de temas como ordenamento territorial, planos de manejo florestal e de uso sustentável, demarcação de reservas extrativistas, cadastramento de famílias no Plano Nacional de Reforma Agrária e criação dos Conselhos Deliberativos em áreas de mangue e de florestas em terra firme de Ucs no Pará e no Amapá.
O encontro contou com a presença, dentre outros, dos coordenadores das Resex Verde Para Sempre, Riozinho do Anfrísio, Arapiuns-Tapajós e de nove reservas Marinhas criadas pelo Ibama no litoral do Pará.
As reservas extrativistas marinhas e florestais no Pará representam mais de dois milhões de hectares protegidos em áreas de manguezais e florestas de terra firme. As Resex foram criadas pelo Governo Federal para ordenar o uso sustentável dos recursos naturais na Amazônia.
Fonte: IBAMA
segunda-feira, setembro 25, 2006
MÉDICA VÍTIMA DE ABUSO SEXUAL NA BOLÍVIA
Uma estudante, agora, uma Acreana, que como muitas outras buscou aprendizado fora e esta procurando colaborar em outras regiões - caso muito similar ao da estudante Vanessa Sequeira tão noticiado recentemente. O fato é que me parece existir uma tendência da sociedade local há não perceber e respeitar o potencial de estudantes em contribuir na resolução de problemas locais. Sendo de fora, mulher e trabalhando em regiões pobres de fronteira, ficam ainda mais vulneráveis e se tornam vitimas de tais crimes. Ver mais detalhes abaixo.
A brasileira I.C.M, 28, foi abusada sexualmente no final de semana pelo médico boliviano Carlos Vaca Justiniano, 32, diretor de um posto de saúde em Montero, uma pequena cidade a 40 quilômetros de Santa Cruz. Formada em medicina, ela cumpre o serviço rural obrigatório (província) na Bolívia, onde atendia população pobre.
O primeiro exame de secreção vaginal foi realizado na cidade por médicos colegas do diretor do posto de saúde. Diante do resultado negativo, um juiz explicou à brasileira que o médico é influente em Montero e sugeriu que ela realizasse novo exame numa clínica independente de Santa Cruz.
O resultado do segundo exame será divulgado na terça-feira junto com o exame de urina, que indicará a presença ou não de eventuais substâncias que possam ter sido ingeridas pela vítima. Médicos e estudantes bolivianos e brasileiros estão prestando solidariedade à médica acreana.
Ela também foi submetida a exame de corpo de delito e está sob a proteção de uma médica e de um empresário, ambos de Santa Cruz. A família da médica é dona do principal canal de televisão da cidade, que levará o caso ao conhecimento da opinião pública.
- A médica brasileira é nossa amiga e faremos o que for necessário para que o médico estuprador seja responsabilizado criminalmente pelas leis de nosso país - disse a médica. Carlos Vaca está sujeito a 15 anos de prisão em caso de condenação.
I.C.M contou que durante a semana teve um sonho no qual embarcava num carro e acabava sendo estuprada pelo taxista. Ela contou o sonho para as amigas. O médico organizou para ontem uma festa de confraternização no posto de saúde. Ele fez questão de exigir com antecedência a presença da estagiária.
- Você vai me acompanhar à festa porque ainda estou preocupada com aquele sonho - disse I.C.M a uma amiga.
Ela contou que bebeu apenas um copo de cerveja oferecido pelo médico durante a festa. Logo começou a reclamar que se sentia muito cansada e sonolenta. Ela e duas amigas decidiram aceitar a carona oferecida por Carlos Vaca Justiniano.
As duas amigas insistiram para que fossem levadas para casa primeiro sob o argumento de que I.C.M deveria fazer companhia ao médico na volta. As três moravam em casas próximas. I.C.M acordou num motel com o médico violentando-a.
Não tinha força para reagir. Quando pediu para que ele parasse, passou a ser espancada. Sem conseguir se levantar, a brasileira foi arrastada pelo médido do quarto do motel até o carro. Ele a deixou em casa semi-acordada.
Autoridades do consulado brasileiro em Santa Cruz de La Sierra já foram avisadas do caso pelos familiares da médica e ofereceram apoio jurídico. A mãe e um irmão da vítima viajam ainda hoje para Brasília e amanhã à noite seguem para a Bolívia.
- Minha mãe contou recentemente, ao telefone, o caso da pesquisadora portuguesa Vanessa Sequeira, que foi violentada e estrangulada no Acre. É muito difícil a gente enfrentar esse tipo de violência, sobretudo longe do país da gente. Agradeço a Deus por estar viva e também pelo apoio que veio de amigos acreanos e bolivianos - disse I.C.M.
Leia mais no blog do jornalista Altino Machado, os posts "Abuso sexual" e "Apelo do governo do Acre".
quinta-feira, setembro 14, 2006
Vanessa soñó
Soñaba que podía marcar la diferencia, pero fue brutalmente asesinada
Olga Marta Corrales
Profesora de Política Ambiental, CATIE
Encontraron su caballo perdido; su sombrero, empapado de sangre. Vanesa había sido brutalmente violada y asesinada, en la primera semana de septiembre, por atreverse a soñar siendo mujer.
Vanesa nació en Portugal. Hablaba cinco idiomas. Tocaba guitarra y flauta dulce. Amaba los animales.
Había vivido la exuberancia del bosque y la impotencia de la miseria desde la India hasta el Perú. Eligió soñar que podía marcar una diferencia y eligió al CATIE, en Costa Rica, para su doctorado.
En medio del bello valle de Turrialba, con vista al volcán y escuchando lapas, Vanesa imaginó que el trópico americano podía ser un mejor lugar. Con estudiantes y profesores construyó ideas y propuestas.
Soñó que productos no madereros del bosque podrían mejorar la calidad de vida. Eligió un paraje remoto en la Amazonia brasileña para probarlo.
Hoy, las banderas del país que la acogió y la Universidad que la nutrió ondean a media asta. Estudiantes de zonas rurales que procuran soluciones sostenibles a la pobreza rural, ven las banderas con incredulidad. La mitad de estos estudiantes son mujeres, todos con sus vidas en línea a los bosques latinos.
Latinoamérica hierve. Mientras camiones ganaderos llevan inmigrantes ilegales a recolectar café en las montañas, hay automóviles Jaguar en venta en la capital. Costa Rica refleja los contras-tes que resquebrajan capital social y catapultan violencia.
Hoy, investigadores en tala ilegal y mercados justos de CATIE se preguntan si sus estudiantes ponen en riesgo sus vidas al buscar opciones. Las fronteras boscosas de nuestra región –escondites ideales y brechas desgarradas– fueron cuna de muchas revoluciones en décadas previas a la nuestra. La actual es década de frágil galanteo con la democracia, en vez de la burda imposición de la fuerza; pero no fue violencia de nuestra sociedad dividida la que nos arrebató a Vanesa. Fue su atrevimiento.
Pioneras soñadoras. Vanesa se atrevió a ser pionera siendo mujer, así como Maureen Hidalgo se atrevió ser individuo siendo esposa, y una joven madre se atrevió a ser asesora parlamentaria confiando en que su desempeño laboral bastaría para su sueño profesional.
Lloramos a Vanesa con la certeza de que, si un hombre hubiera sido líder de la investigación, esto no habría pasado. Vanesa abrazó su derecho a aportar a la sociedad como ser humano solidario, no como alguien con libertades coartadas. Ese fue su crimen.
Rabia e impotencia desgarran sabiendo que estas mujeres de las noticias son ínfima muestra de las que abortan sueños bajo un velo, palabras que degradan o un cuchillo. El mundo de mis hijos sigue sin su contribución.
Vanesa: esa burda imposición de la fuerza bruta que te arrebató de nuestra realidad será aplacada por el puño de la razón y la esperanza. Tu testarudo deseo de construir puentes y encontrar opciones prevalecerá. Sos ya inspiración de jóvenes que, como vos, pregonan cambios a gritos con sus acciones.
quarta-feira, setembro 13, 2006
Mônica Mazzer Barroso - Membro
A paixão de Mônica pela Amazônia e sua gente nasceu em 2002 quando trabalhou com comunidades ribeirinhas como parte da equipe do Projeto Saúde e Alegria em Santarém (PA). Esta experiência a levou a co-idealizar o Projeto Bagagem , ONG que tem como missão contribuir para o desenvolvimento de comunidades no Brasil por meio do turismo de base comunitária. Sua experiência em Santarém também a motivou a voltar a Londres, onde já havia cursado seu mestrado em Gestão de ONGs, para iniciar a trilha do doutorado e aprofundar seus conhecimentos sobre a Amazônia e seu povo. Durante sua trajetória profissional e acadêmica dos últimos anos Mônica trabalhou em diversas áreas protegidas como a Floresta Nacional do Tapajós (PA), a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (PA), a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itatupã-Baquiá (Gurupá, PA),o Projeto de Assentamento Agroextrativista Camutá do Pucuruí (Gurupá, PA) entre outras modalidades de áreas protegidas no município de Gurupá. Seu trabalho e convívio com as populações caboclas destas localidades despertou grande interesse por projetos ligados a produtos florestais não-madeireiros, e com o término do doutorado ela busca novas oportunidades de pesquisa relacionadas a áreas protegidas, populações tradicionais e manejo florestal comunitário, que pretende conciliar com a coordenação do Projeto Bagagem.
Na foto Mônica está em uma das incontáveis pontas de areia da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns praticando uma de suas paixões que é fotografar. Vale apena ver um ensaio fotográfico que Monica fez sobre Gurupá com imagens do seu trabalho de campo: Clique aqui. E-mail para contato: mmbarroso@gmail.com
terça-feira, setembro 12, 2006
Reservas Extrativistas no Cerrado
BOLSA DE ESTUDO VANESSA SEQUEIRA
O Centro Agronômico de Investigação e Ensino Tropical (CATIE) na Costa Rica, onde Vanessa estava fazendo seu doutorado em conjunto com a Universidade de Gales na Inglaterra, anunciou a criação da Bolsa de estudo Vanessa Sequeira. Que bela forma de homenagear Vanessa!!
Ver nota abaixo:
Homenaje a una gran amiga, colega y profesional
Recordando Vanessa
No nos alcanzan las palabras ni los gestos para honrar a la mujer y al trabajo que siempre la distinguió como una destacada estudiante doctoral y prometedora profesional: Vanessa Annabel Shäffer Sequeira
Vanessa Annabel Shäffer Sequeira, fue asesinada el 3 de setiembre de 2006 mientras realizaba su investigación de campo en Brasil en el Estado de Acre de la Amazonía de Brasil. El Dr. Glenn Galloway, decano de la Escuela de Posgrado del CATIE, expresó que profundo pesar que “… quienes conocimos a Vanessa la recordaremos como una mujer dinámica, inteligente, entusiasta, querida y totalmente comprometida con la causa de buscar cómo mejorar el bienestar de las personas que viven de alguna forma ligadas al bosque”. El decano dijo que la muerte de Vanessa es una pérdida incalculable y una tragedia sin sentido. “No nos queda más por el momento que rezar por su familia y sus amistades para que encuentren la fortaleza requerida en este momento tan lamentable”. Según las declaraciones de la policía brasileña, Vanessa fue atacada por un exconvicto quien había sido puesto en libertad tras descontar en la cárcel una pena de 10 años por asesinar a una mujer.A sus 36 años, su curricula mostraba gran experiencia de trabajo en el campo y en diversos países latinoamericanos. Por un tiempo, estuvo trabajando con la organización Rainforest Alliance en Perú, Ecuador y Bolivia; en estos años su trabajó se centró en certificación forestal y con el Programa Productos no Maderables del Bosque. Además, por tres años, Vanessa fue la directora de campo del Proyecto Consevación Castañales en Perú con la Asociación para la Conservación de la Cuenca Amazónica (ACCA) y la Fundación Moore. Asimismo, esta joven professional fue la oficial de información forestal de Worldwide Fund for Nature in Godalming, Reino Unido.Vanessa obtuvo su maestria Recursos Naturales del Bosque en la Universidad de Gales, Bangor, y se recibió con honores de la Universidad de East Anglia, Norwich, ambas del Reino Unido. En este último centro de estudios se distinguió como una estudiante de honor.En Brasil estaba realizando su trabajo de investigación final de tesis para optar por el título de doctora y egresarse de la Escuela de Posgrado del CATIE bajo la modalidad Doctorado Conjunto CATIE – Universidad de Gales (Inglaterra). Su trabajo de investigación versaba sobre el Balance de las disyuntivas entre la seguridad de los medios de vida y la conservación forestal en la Amazonía Brasileña: un enfoque en los asentamientos de Acre, una región de pobreza crónica.En memoria de Vanessa, el Director Geneal del CATIE, Dr. Pedro Ferreira, anunció que se establecerá la Beca Vanessa Sequeira, una beca que continuará beneficiando a quienes como ella, se distingan por su compromiso con el desarrollo sostenible y la calidad de vida de las comunidades rurales.
Portuguesa de nacionalidad, Vanessa Annabel Shäffer Sequeira nació en Alemania y se convirtió en una hija más de esta gran familia del CATIE desde el 2003. Hoy, estudiantes, egresados y funcionarios nos unimos para dar testimonio del excepcional trabajo en beneficio de las comunidades rurales que venía realizando esta gran mujer.
domingo, setembro 10, 2006
Vanessa A. S. Sequeira: O Acre, o crime e uma paixão
Estudante de doutorado em Geografia/Universidade da Flórida
10/09/06
O Acre:
O estado do Acre, no sudeste da Amazônia, foi há algumas décadas palco de uma grande luta liderada pelo seringueiro Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988, contra a destruição da região. É um estado símbolo da luta contra a destruição da Amazônia e se tornou internacionalmente conhecido exatamente por causa de um assassinato. O Acre mudou muito desde então - para melhor com certeza. Talvez seja o único estado de expansão de fronteira econômica na Amazônia brasileira que conseguiu acabar com a violência fundiária, ainda muito frequente em outros estados como Pará e Rondônia, onde o avanço da pressão humana sobre a floresta tem até hoje significado o assassinato de lideranças comunitárias, lideres ambientais, religiosos, e outros defensores dos direitos humano e ambiental. O Acre tem um governo que se intitula “Governo da Floresta”, no poder há oito anos e é liderado por um governador visionário que era assessor do lider seringueiro Chico Mendes; seu indice de aceitação publica é de 83%, o maior do pais de acordo com pesquisa divulgada esta semana pelo Ibope (principal agência de pesquisa de opinião publica do Brasil). O assassinato de Vanessa não teve conotações de ativismo ambiental, nem está ligado ao seu objeto de estudo profissional. Será que temos que nos conformar com o que parece ter sido uma tripla e absurda fatalidade: lugar errado, hora errada e encontrar a pessoa, se é que pode-se dizer isto, errada? O fato é que Vanessa morreu por ser mulher: uma mulher do mundo – mas estava sozinha e vulnerável no momento do encontro trágico. Como menciou a sua amiga alemã Christiane Ehringhaus, que fez seus estudos de mestrado e doutorado com populacões extrativistas no Acre, “é difficil acreditar que neste Acre que todos nos trabalhamos com bastante tranquilidade durante todos estes anos possa acontecer uma coisa destas!!”
O Acre tem feito a sua parte, e o atual governo acabou com uma quadrilha criminosa liderada por um comandante da polícia militar local que amedrontava a todos: juízes, deputados, jornalistas, ativistas de direitos humanos e qualquer cidadão comum. O algoz de Vanessa já havia cometido crime similar e foi encontrado rapidamente. Todos os procedimentos legais foram tomados com certa agilidade pela Secretaria de Segurança do Estado, de acordo com a imprensa local - o empenho das autoridades locais está claro e o criminoso foi preso em algumas horas. Mas sabemos também que qualquer delegado do interior do Acre conhece quem é ladrão de galinhas e quem já cometeu algum delito mais grave como um estrupo ou assassinato. O problema está em deixar pessoas com tais históricos de crime sexual sem um acompanhamento policial mais próximo. O problema está nas mudanças tão necessárias que precisam ser feitas no nosso país, mudando o código penal e a legistação criminal que ainda permitem que pessoas assim continuem em liberdade total. Sem querer fazer comparações, aqui na cidade de Gainesville (Flórida), onde estou estudando, se eu quiser saber quem já cometeu algum tipo de delito sexual no bairro onde eu moro, basta eu entrar na webpage da polícia local e tudo está lá: nome, endereço, o crime cometido, a foto. Com isto, pais, mães e filhos ficam, no minimo, mais atentos e menos vulneráveis. No Brasil, liderdade condicional significa desaparecer para onde quiser até cometer outro delito grave como no caso com Vanessa. Três dias após o assassinato de Vanessa, um outro presidiário em condicional acusado de estrupo foi assassinado com 25 facadas em Brasiléia, município do Acre na fronteira com a Bolivia. A polícia não tem pistas do assassino, mas trabalha com a hipótese de vingança. Teria sido a familia de mais uma vitima de estrupo que deixou de acreditar na justiça, e resolveu agir com seus próprios métodos? O crime rendeu uma nota de quatorze linhas em apenas um dos vários jornais local. Não esqueçamos o caso recente em São Paulo onde vários criminosos deixaram a prisão no dia dos “pais” e no dia seguinte provocaram uma verdadeira guerra urbana promovida pelo grupo criminoso PCC, matando dezenas de cidadãos inocentes. Quando o Brasil terá leis mais rígidas?
A notícia:
No final da tarde de segunda feira (04/09) quando tudo parecia muito silencioso, eu o Jornalista Altino Machado e a Dra. Mary Allegretti começamos a conversar via Skype sobre o trágico fato. Na manhã seguinte as comemorações do dia da Amazônia estariam acontecendo. Mary Allegretti, que tem uma vida dedicada a comunidades amazônicas e que já sofreu diversas ameaças no Acre quando ela e outros poucos defendiam a causa de Chico Mendes, nos falava: “Eu acho que nós temos que fazer várias coisas: organizar um dossiê sobre a Vanessa e seu trabalho; divulgar quem ela era; protestar, protestar e protestar. Não podemos nos calar diante de um crime bárbaro como esse. É a única maneira: reagir, se indignar, batalhar para que seja feita justiça imediatamente”. O Blog “Rede Reservas Extrativistas” foi o espaço que encontrei para tentar protestar, especialmente tentando mostrar o lado da vida profissional e pessoal da Vanessa, pelo menos para os amigos que temos em comum. Este blog não tem e nem terá a intenção de ser fonte de notícia jornalistica: é um espaço de discusão para pesquisadores e profissionais interessados no tema “Reservas Extrativistas” - Vanessa era uma dessas profissionais e assim era membro da “Rede de Pesquisadores em Reservas Extrativistas”. Foram mais de três mil visitas no blog no dia que se comemorava o “dia da Amazônia” (05/09). O Blog do Altino que é uma referência de notícia regional, recebeu mais de seis mil visitas únicas neste dia, um recorde para ele - mas ele nota “poderia até tentar comemorar o modesto recorde, mas seria impossível me sentir feliz diante de tanta violência contra a vida.” Como ele me falou: “tentamos fazer a nossa parte” - Altino fez com muito profissionalismo e sensibilidade. É a fonte mais completa de informações sobre o trágico acontecimento com Vanessa. Mas o vácuo, por conhecer Vanessa e termos vários amigos em comum que sei que como eu estão muitos tristes, é muito grande. As notícias sobre Vanessa correram as páginas dos principais jornais do Brasil e Portugal. Mas tudo ou quase tudo está voltado para o trágico assassinato, pouco, muito pouco ainda, sobre a sua tragetória como pesquisadora, seu jeito de ser, suas amizades, seu trabalho e seus ideais. Neste artigo quero falar da um pouco mais da Vanessa como pessoa, pesquisadora, e profissional comprometida com seus ideais e seu trabalho com comunidades rurais na Amazônia. Ainda tem muito a ser dito sobre ela, mas ainda é hora de silêncio para seus amigos e familiares.
Mas o crime está de fato resolvido?
De acordo com as autoridades do Acre o crime de Vanessa esta práticamente resolvido, faltando apenas a confirmação do teste de DNA, para o caso da principal testemunha, a esposa do assassino, mudar seu depoimento sobre os fatos. Ao ser questionado por sua esposa, quando ainda estava se limpando na cacimba (poço de captação de água) das manchas de sangue, o assassino declarou “ela não é pesquisadora coisa nenhuma, é da Policia Federal,” de acordo com as informações divulgada na imprensa local.
Há dois meses atrás Vanessa foi denunciada por “biopirataria” por um pescador ilegal em uma comunidade próxima a esta onde foi assassinada. A Polícia Federal e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente-IBAMA de imediato foram as comunidades onde Vanessa estava trabalhando e conversaram com os residentes constatando que tudo não passava de uma denúncia infundada. Ao saber dos fatos, já em Rio Branco, Vanessa foi a delegacia da Polícia Federal e esclareceu qual o seu trabalho com as comunidades, apresentando as devidas autorizações legais junto aos orgãos governamentais autorizando sua pesquisa.
Quem trabalha com comunidades rurais na Amazônia sabe como é que as notícias correm rápidamente nas comunidades; os últimos a saberem sempre tem uma visão bem deturpada dos fatos. Vanessa era a primeira pesquisadora a desenvolver pesquisa na comunidade e para alguém praticando alguma atividade ilegal, uma pessoa de fora é sempre uma “ameaça”. O assassino de Vanessa até agora não confessou o crime, e de fato novos detalhes podem aparecer se ele resolver falar. Indagações nesta caso, ainda são bem pertinentes. Será que a denúncia sem sucesso contra Vanessa havia despertado algum sentimento de vingança para estes que estão desenvolvendo alguma atividade ilegal na comunidade? Será que Vanessa foi vitima de um crime previamente tramado? Se sim, será que o assassino estava de fato sozinho? Será que seu passado de criminoso despertou sua intenção de assassiná-la pensando que ela era de fato uma policial? E a Policia Federal e o IBAMA, o que fizeram ao constatar que a denuncia era infundada? Verificaram o perfil do denunciante? Isto poderia ter evitado a morte de Vanessa? Não sabemos nada disso, nem a polícia tem investigado tais possibilidades, até onde a imprensa local tem informado. Mas no minimo devemos questionar...
Uma paixão:
Vanessa como profissional, especialista em produtos florestais não madeireiro, era apaixonada por populações extrativistas e uma das árvores mais simbólicas da Amazônia. Uma espécie que continua sendo destruida na região para implantação de pastagens, mas que ainda garante a sobrevivência de milhares de comunidades tradicionais: a castanheira. Vanessa trabalhou vários anos no Peru com manejo de castanhais pela organização não governamental “A Associação para a Conservação da Bacia Amazônica”. Nos últimos três anos Vanessa estava cursando doutorado. Sua Pesquisa era entitulada “Custo e Benenfício das Atividades de Geração de Renda e Conservação Florestal na Amazônia Brasileira: O Caso de um Projeto de Assentamento Florestal no Acre.” Estava avaliando as fontes de geração de renda familiar baseada nas atividades extrativistas, como a coleta de castanha e a produção agropastoril, que tem significado a destruição de diversos castanhais na Amazônia. Na foto ao lado, na comunidade onde estava trabalhando, Vanessa esta de frente para uma dessas castanheiras, morrendo solitária no meio de um campo de pastagem. Uma imagem comum nas margens de qualquer rodovia do Acre e em outras regiões da Amazônia.
sábado, setembro 09, 2006
VANESSA'S BACKPACK.....
9 September, 2006
I first met Vanessa in 2004, I think, on her first trip to Acre in search of a Ph.D. project. She came to talk to me at the “UF House,” rented through our research grant funds to give expatriate researchers a place to stay when in Rio Branco, especially those affiliated with the University of Florida. Vanessa had sought me out because she knew of my many years of research experience and as advisor for dozens of students carrying out research in the Amazon. She wanted to get feedback on her ideas and possible sites of research, and I was very interested in helping her find the right approach.
Although new to Acre, Vanessa had significant previous professional experience in the Peruvian Amazon region, and was dazzlingly clear headed when she asked me: “After all these years, what policy impact has your work had?” This was a direct, and difficult question, and typical of her sharp mind and committed thoughtfulness. The question still hangs there as a challenge for me. But Vanessa was also a lot of fun – incredibly witty, very open and friendly.
This year I met up with Vanessa again in July, when I returned to Rio Branco, and she has already been there several months carrying out her Ph.D. research. She was thoroughly integrated into the UF+ social group that included UF professors and their children, UF graduate students, other outside researchers (such as Vanessa) and our friends and research partners in Brazil. I saw Vanessa again at the UF House, along with Lee, for the big July 4th party with the red-white-and-blue tortillas. Everyone had a good time. After that, Vanessa went back to Portugal for a family visit (thank god), so I did not see her until mid-August when she came to a talk I was giving at the university. We had a very interesting exchange about our research findings, since I was studying migration of rural peoples to the city, and she was studying rural people who had decided NOT to move to the city. It was one of those conversations that ends with the idea that you should sit down and talk about this in more detail one of these days.
The little wooden house Vanessa rented in Rio Branco was right down the street from the UF house, and from other close friends’ apartments. The next day, Friday, August 24, Vanessa called and came by the house to drop off her backpack containing her laptop, documents and other valuables – for safety while she went to the field. We embraced, because I was flying back to the States before she returned from the field. I stowed the backpack in my bedroom and glanced at it every day as I moved through my life, until I left for the U.S. on August 31.
The forlorn image of that backpack, waiting uselessly in my bedroom, epitomizes the empty absence of Vanessa.
Marianne Schmink, Director
Tropical Conservation and Development Program (TCD)
University of Florida
9 September, 2006
UMA VIDA TÃO RICA...
Caro amigos e colegas,
Vanessa Annabel Schaffer Sequeira era minha grande amiga. Eu encontrei Vanessa no final de 2004 em Bangor, e até poucas semanas atrás dividiamos uma pequena casa de Madeira enquanto eu estava fazendo minha pesquisa no Acre. Nós trabalhamos juntos na Amazônia, nós passamos incontáveis horas conversando nas varandas de várias casas, e sentados nos barrancos dos rios, debaixo de um céu tão cheio de estrelas que parecia que tínhamos deixado a terra e estavamos sentados no espaço.
Nós conversávamos profundamente sobre a vida, o meio ambiente, sociedade, política, amor, e qualquer coisa imaginável. Outras vezes, sentávamos juntos em silêncio, fumávamos nosso cigarro, e mutuamente apreciávamos o som da floresta e do mundo ao nosso redor, não precisando dizer nenhuma palavra ao outro, e sempre sabíamos sobre o que o outro estava pensando. Nós dois simplesmente contemplávamos o prazer da vida, o silêncio, a paz e o fato de estarmos vivos. Tornamo-nos amigos próximos, e desenvolvemos uma forte conexão por causa das nossas similaridades e diferenças. Ela era uma linda mulher, cheia de convicção, dinamismo, coragem, e um profundo senso de justiça social e amor pela floresta e sua gente. De fato, ela era uma das mais raras e inspiradoras mulheres que alguém espera encontrar um dia.
Eu geralmente falava que ela era um enigma, porque continha uma mistura única de beleza e mistério das coisas da vida: escuridão e luz, tranquilidade e caos, feminilidade e profundeza; e acima de tudo, motivava um altruísmo e uma força poderosa na vida de quem a conhecia.
No domingo, três de setembro, Vanessa foi violentada até a morte em uma pequena reserva florestal no Estado do Acre-Brasil.
Na quinta feira, nós a enterramos no semitério de uma pequena vila de Sobrainho dos Gaios, um lugar que ela sempre falava e sonhava em retornar um dia. A vista do Vale do Ouro e das oliveiras de Portugal eram de tirar o fôlego.
A enorme multidão que apareceu veio de muitas partes do mundo, e a rapidez com que tudo aconteceu evitou que muitos participacem da cerimonia. Apesar disso, a mobilização de muitos que vieram foi um maravilhoso crédito para sua vida, e uma lembrança do efeito que ela tinha na vida de todos. Idéias de memorial estão sendo discutidas do Brasil à Bali; do Nepal ao Peru. Enquanto ela retornava para casa, para o lugar que ela amava profundamente, incontáveis pessoas ao redor do mundo estavam tristes pela perda de uma amiga verdadeira e de um excepcional ser humano.
Vanessa era de fato um enigma, era uma inspiração para muitos, e tinha uma vida com méritos de celebração; eu quero fazer todos saberem disso.
Quando você ler isto, segure o nó na gargante e converta isto para promover justiça no mundo. Vanessa devotou sua vida para isto, e eu nunca cessarei de ser inspirado por sua coragem e dedicação. Eu me sinto muito orgulhoso de ter conhecido uma mulher tão explendida.
“Ness”, você estará sempre entre nós, e seu legado sobrevivirá conosco.
A LIFE SO RICH
Dear friends and colleagues,
This is my good friend Vanessa Annabel Schaffer Sequeira. I met Vanessa at the end of 2004 in Bangor , and up until a few weeks ago I shared a small wooden house with her in Brazil while I did my research there. We worked together in the Amazon, and we spent countless hours conversing on the varandas of various houses, and sitting on the edge of the river in the depths of the forest, under skies so full of stars it seemed like we had left the earth and were sitting in space.
We talked in depth about life, the environment, society, politics, love and just about everything else imaginable. Other times we would sit together in silence, smoke our cigarettes and mutually appreciate immersion in the sounds of the forest and the world around us, not having to say a word to each other, and always being aware of what the other was thinking, both of us just appreciating the joy of life, the silence, the peace and simply being alive. We became close friend, and developed a strong bond due to the similarities and the differences that we had. She was a beautiful woman full of conviction, dynamism, courage, a profound sense of social justice and a deep love of the environment and the people in it, and in short, she was one of the rarest, most inspirational and special women one could hope to meet.
I told her often that she was an enigma, because she was such a unique, beautiful and mysterious blend of all of the stuff of life; darkness and light, tranquillity and chaos, femininity and depth, and above all, an embodiment of altruism and a powerful force in the life of everyone who knew her.
On Sunday September 3rd, Vanessa was raped, strangled and beaten to death in a small agro-extractive reserve in the state of Acre, Brazil.
On Thursday we buried her in the cemetery of the tiny village of Sobrainho dos Gaios, a place which she had so often talked about, and which she had dreamed of returning to one day. The view over the golden hills and olive groves of Portugal is breathtaking.
The enormous crowd which turned out came from many parts of the world, and only the total absence of time to prepare and plan journies prevented so many more from coming. Despite this, the mobilisation of the many who did was an outstanding credit to her life, and a reminder of the effect she had in the lives of others. Memorial ideas are being talked about from Brazil to Bali , and from Nepal to Peru , and while she has returned home to the land she so dearly loved, countless people around the world are mourning the loss of a true friend and an exceptional human being.
Vanessa was indeed an enigma, had achieved so much, was an inspiration to so many, and had a life so worth celebrating that I wanted to let everybody know it.
When you read this, grasp that ball in your stomach and use it to compell you to pursue a greater justice in this world. Vanessa had devoted her life to it, and I for one will never cease to be inspired by that courage and dedication, or feel such pride to have known such an awesome woman.
Ness, you will always be with us, and your legacy will outlive any of us
sexta-feira, setembro 08, 2006
ERA UMA GUERREIRA
Um momento de partilha de dor – foi assim que anónimos, familiares e amigos deram o último adeus à investigadora portuguesa Vanessa Sequeira, assassinada no Brasil e sepultada ontem em Sobrainho dos Gaios, Proença-a-Nova.
LÍDA BARATA
repórter do jornal português Correio da Manhã
Além da dor comum, era também grande o sentimento de indignação pelo brutal homicídio. Cazuza, um investigador brasileiro com quem Vanessa Sequeira conviveu mais de perto no Brasil, nos últimos oito meses, salienta que defendiam “os mesmos valores e as mesmas causas sócio-ambientais, como melhorar as condições de vida das pessoas sem prejudicar a floresta”. Este era o grande objectivo do trabalho que a investigadora portuguesa estava a fazer no Acre, em Rio Branco, na Amazónia brasileira.
O crime – sobretudo pela forma como aconteceu – “foi um choque muito grande para todos no Acre, porque ela era uma pessoa com valores humanos muito fortes, um espírito altruísta muito forte, sacrificando muitos aspectos da sua vida pessoal pelo trabalho. Era uma verdadeira guerreira, não esmorecia com nada e não virava a cara à luta”, conta Cazuza.
“A sua forma de ser, alegre, espontânea, também cativou todas as pessoas, quer aquelas com quem trabalhava, quer as da comunidade junto de quem recolhia as informações para o seu trabalho. Esta notícia e a forma como tudo aconteceu deixou todos muito perplexos, mas todos se mobilizaram e reagiram, angariando cada vez mais gente para propagar os valores que Vanessa tinha e defendia.”
O investigador brasileiro recorda ainda que este ano, “o Dia da Amazónia, dia 5 de Setembro, não teve motivos para ser comemorado. A melhor homenagem que pode ser feita a Vanessa Sequeira é, realmente, continuar a difundir os seus valores”, reiterando que “ela era muito querida por todos, tanto que a população de Rio Branco realizou uma missa em seu sufrágio”.
Apesar de o momento ser mais propício ao “silêncio e oração” – como disse o padre que celebrou as exéquias – alguns amigos deixaram mensagens muito sentidas. Lee Dawson, um investigador que regressou há três semanas do Brasil – onde esteve com Vanessa Sequeira –, contou que a “amiga” lhe propôs um pacto antes de ele voltar: “Um dia vamos sentar-nos à beira-mar, com os nossos sonhos todos realizados.” E se os sonhos da jovem investigadora se desvaneceram, o maior do amigo é fazer uma escola para meninas de rua, à qual dará o nome da portuguesa, em sua homenagem.
Joana Borges Coutinho também enalteceu as qualidades da amiga: “A Vanessa era uma mulher forte, determinada, teimosa, alegre, amiga, misteriosa, correcta, inesquecível. Na vida como na morte, representou a essência do feminino e a ingratidão de se ser mulher.” Apesar de confessar que nenhuma das duas era particularmente religiosa, leu a Oração de São Francisco, palavras que costumavam dar alento à investigadora.
Na missa e no cortejo fúnebre, marcado pela dor e pesar, estiveram presentes familiares, muitos populares, o anterior e o actual presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, o presidente da Junta de Freguesia do Alvito, representantes dos Bombeiros Voluntários do Estoril, instituição da qual o pai é vice-presidente, e também alguns colegas de trabalho e amigos de Vanessa Sequeira.
SUSPEITO FOI PARA UM POÇO
Numa tentativa de apagar vestígios do crime, Raimundo Nonato Rocha Lima, acusado da morte de Vanessa Sequeira – violada e assassinada domingo no município de Sena Madureira, no estado brasileiro do Acre – ficou mais de uma hora dentro de um poço a tentar limpar o sangue da vítima.
A informação foi dada à Polícia pela mulher do suspeito. Raimundo Nonato – que na manhã do crime tinha bebido durante muito tempo e brigado com familiares antes de desaparecer por horas – estava descontrolado e cheio de sangue na roupa ao regressar a casa ao final da tarde . Terá comentado apenas: “Acabei de fazer uma grande bobagem.” Depois, enfiou-se vestido dentro de um poço no quintal da casa, onde esteve mais de uma hora.
Mesmo assim, não conseguiu tirar todo o sangue da roupa, tal a quantidade e a forma como se tinha impregnado.
DETALHES DO CRIME
PROVAS
Na segunda-feira, a Polícia encontrou as roupas do suspeito, já detido, com o sangue da investigadora portuguesa. Este dado e as amostras de sémen recolhidas no corpo, poderão constituir as principais provas de culpa, assim que estiverem concluídos os exames de ADN.
NEGA
Por enquanto, Raimundo continua a negar o crime. Umas vezes garante que não violou e matou Vanessa Sequeira, noutras diz que, se foi, não se lembra de nada. A Polícia do Acre não tem, no entanto, qualquer dúvida da sua culpa. Só espera os testes de ADN para formular a acusação.
DESPEDIDA
A Igreja de Sobrainho dos Gaios (Alvito), no concelho de Proença-a-Nova, foi pequena para acolher todos aqueles que ontem quiseram participar no último adeus à investigadora portuguesa, assassinada domingo, no Brasil.
Fonte: Blog do Altino
HASTA SIEMPRE NESI...
A Associação para a Conservação da Bacia Amazônica distribuiu uma mensagem em homenagem à pesquisadora portuguesa Vanessa Sequeira. Segue a nota:
"Vanessa Sequeira se integra à família de ACCA em 1999 como diretora em campo do Projeto Conservando Castanhais. É neste projeto onde ela assume grandes responsabilidades em torno da implementação de um programa de manejo sustentável da castanha como uma alternativa econômica e ecológica que permita assegurar a conservação da Amazônia peruana. Nesi, como carinhosamente a chamávamos, esteve presente no processo inicial do desenvolvimento institucional e gracias ao seu trabalho, se consolidam uma grande série de êxitos para a ACCA.
Desde sua chegada, Nesi (ou "La Inge", como também a chamavam nossos companheiros castanheiros) ganhou o carinho, a simpatia e o respeito de todos aqueles que tiveram a oportunidade de trabalhar com ela.
Lamentavelmente, no dia 3 de setembro, aos 36 anos de idade, Vanessa morre no Brasil, lugar onde realizava uma pesquisa para sua tese de doutorado para o Centro de Altos Estudos e Pesquisa de Agricultura Tropical da Costa Rica. O objetivo de sua pesquisa se concentrava em promover programas de manejo sustentado afim de ajudar às populações da região amazônica a cultivar suas terras sem necessidade de derrubar as florestas. Meta que marca tanto sua carreira professional e seu desenvolvimento pessoal.
O legado de Vanessa na conservação do Peru foi enorme. Ela assentou as bases para desenvolver o manejo dos castanhais, levando a ACCA a ser pioneia neste campo a nível mundial. Estamos profundamente agradecidos a ela pelos avanços que agora estamos apresentando. Ela permanece no coração de todos os castanheiros do Peru, do movimento ambientalista e de todos os que tivemos o privilégio de haver trabalhado junto com ela.
Nesi, nos deixa uma valiosa herança científica, professional e humana, cheia de sensibilidade e nobreza. Por tudo isso e muito mais, para a família da ACCA, ela estará sempre presente entre nós.
Para sempre Nesi..."
quinta-feira, setembro 07, 2006
In Loving Memory
Click here to learn about Vanessa research with the Rainforest Alliance
Katherine Pierront
Gerente Regional Sudamérica / South America Regional Manager
SmartWood Program / Rainforest Alliance
Morta na Amazónia
A investigadora portuguesa assassinada na Amazónia vai ser sepultada esta quinta-feira à tarde na terra do pai, Sobrainho dos Gaios, no concelho de Proença-a-Nova. O corpo chega esta madrugada a Lisboa vindo de São Paulo, Brasil. Vanessa Sequeira de 36 anos foi morta no Estado brasileiro do Acre no domingo passado. A investigadora estava na Amazónia a fazer trabalho de campo para o doutoramento.
Passou parte da infância no Brasil, esteve na Alemanha, nos Estados Unidos e brevemente ainda adolescente em Portugal, país onde já só regressava de férias.
Filha de pai português e mãe alemã, Vanessa Annabel Schäffer Sequeira viveu como se a natureza fosse a sua casa.
Estudou na Faculdade de Ambiente e Recursos Naturais da Universidade de Bangor no País de Gales, Reino Unido, onde fez o mestrado em modelos de gestão da floresta.
Fez pesquisas no Nordeste brasileiro, na Índia, no Peru, na Costa Rica e estava agora a fazer trabalho de campo no Acre para o doutoramento.
A tese que a levou à Amazónia brasileira e a contactar com as populações locais tinha a ver com a procura do equilíbrio entre a conservação da floresta e o bem-estar das famílias que ali vivem.
Os amigos recordam-na como corajosa e empenhada na conservação da natureza mas também na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Em parte dividida entre acção concreta numa organização não governamental e a investigação científica.
A aventura pessoal e científica de Vanessa acabou no último domingo na zona rural de Sena Madureira, no Acre.
FONTE: Sapo.pt
06/09/06, 20:51 - Portugal
Crime no Brasil: Vanessa Sequeira é hoje sepultada
A investigadora portuguesa violada e assassinada no Brasil percorreu o Mundo, mas era numa pequena aldeia de Proença-a-Nova que se sentia em casa: passava férias em Sobrainho dos Gaios (Alvito da Beira) e era aqui que Vanessa Sequeira, de 36 anos, pensava viver no futuro, numa casa típica recuperada.
Ilda Soeiro, uma amiga da família, contou ontem, entre lágrimas, que os pais e a investigadora morta na Amazónia brasileira visitam muitas vezes a aldeia. “Sempre que podiam vinham cá. Os pais têm cá uma casa, que era dos avós paternos e compraram outra, que era dos meus pais, e também recuperaram. Como as outras irmãs não eram tão apegadas à terra como a Vanessa, ela dizia sempre que aquela casa ainda ia ser para ela.”
“Quando as pessoas estão doentes, ou morrem de acidente, já é uma dor muito grande, mas desta forma horrível é um choque muito grande. A gente regula-se por nós: eu tenho duas filhas e nem imagino o que seria se alguma coisa lhes acontecesse”, compara Ilda Soeiro.
A recordação de Vanessa Sequeira deixa todos com um sorriso nos lábios. “Ela vinha cá sempre que podia, adorava isto, passeava o cão, brincava com as pessoas, era uma rapariga impecável, uma pessoa muito simpática, tanto ela como os pais. A família é muito querida cá na terra”, diz.
Além de Sobrainho dos Gaios, terra natal do pai, Vanessa Sequeira, também costumava visitar a Quinta do Cerejal, em Sobreira Formosa. Mantinha aqui igual contacto com a natureza, pois “tinham sempre a preocupação de ir levar água e regar os sobreiros e as árvores”.
A investigadora estava na Amazónia brasileira a preparar uma tese de doutoramento sobre as populações que vivem da floresta amazónica e foi assassinada, domingo, por um agricultor, de 36 anos, que já se encontra detido.
ASSASSINO SUSPEITO DE MAIS MORTES
O corpo de Vanessa Sequeira foi autopsiado em Rio Branco, capital do Acre e trasladado para Lisboa, sendo hoje sepultado, no cemitério de Sobrainho dos Gaios, aldeia natal de seu pai. Estava previsto que o corpo chegasse hoje de manhã a Lisboa, depois de ter saído na madrugada de ontem de Rio Branco. Entretanto, ontem, em Rio Branco, o inspector José Barbosa de Moraes, da Delegacia Geral de Polícia do Acre, ordenou a reabertura de dois inquéritos por violação seguida de morte de jovens da região de Sena Madureira, que tinham sido arquivados sem indicação de culpados. Pelo modo de agir de Raimundo Nonato Rocha Lima, de 36 anos, já preso, considerado o autor da morte da portuguesa, a Polícia pensa que pode ter perpetrado também estes dois crimes, e um terceiro ocorrido na cidade de Boca do Acre, já no estado do Amazonas. Um dos crimes ocorreu em 1998, e a vítima foi uma deficiente de 22 anos, violada, torturada e morta. O outro caso aconteceu em 1999 e a vítima foi uma menina de 15 anos. O modo de agir foi semelhante.
FESTA ENSOMBRADA NA AMAZÓNIA
TRISTEZA
Vanessa Sequeira era uma pessoa muito alegre e sociável, granjeando a simpatia de todos os habitantes de Sobrainho dos Gaios, aldeia que visitava sempre que tinha disponibilidade. Por isso, a sua perda é muito sentida.
COLEGAS
A morte provocou grande consternação junto dos seus colegas investigadores que trabalham na maior floresta tropical do Mundo, também porque este crime ensombrou o Dia da Amazónia, assinalado a 5 de Setembro.
RELATÓRIO
O relatório da autópsia ao corpo da investigadora será divulgado nos próximos dias, mas o delegado da cidade de Sena Madureira, João Augusto Fernandes, diz que a causa da morte resultou de “várias pauladas” na cabeça.
Fonte: Correio da Manhã - Portugal, 07/09/06
quarta-feira, setembro 06, 2006
From Amy E. Duchelle
I am just back from the field to discover this shocking and devastating news about Vanessa. She and I had planned to spend this weekend together in Rio Branco to dance and laugh and just relax together from what has been a difficult few weeks of fieldwork for us both. Vanessa was one of my lights in Acre. It feels hard to move forward from this, feeling my own mortality and vulnerability like never before. In our last conversation just before she left for the field last week, she was dreaming about finishing her PhD and finding a mountain to meditate on. But knowing Vanessa, that meditation would only have lasted so long before she was back in the field fighting for what she believed in. When I first met her at a conference at the University of Florida, she had tears in her eyes when she talked about Ernesto Raez Luna mentioning the successes of ASCART, a group of Peruvian Brazil nut producers with whom she had worked for four years, in his presentation to an international audience of hundreds of people. In Acre, she considered the families in Reserva Riozinho dear friends. She stayed here for them, not for herself. I feel so lucky to have had Vanessa as a friend, and so terribly sad to feel the loss of her.
Big hugs to you all,
Amy E. Duchelle
Ph.D. Candidate
University of Florida
Note of a friend of Vanessa in Bolivia
Vanessa, we will put all our efforts and energy to continue your work. You will always be remembered by your friends at the Rainforest Alliance.
Katherine Pierront - SmartWood Program/Rainforest Alliance
Gerente Regional Sudamérica / South America Regional Manager
SmartWood Program / Rainforest Alliance
Santa Cruz, Bolivia
Note from a friend of Vanessa
There is a certain helplessness that one feels when confronted with what has happened with Vanessa. She worked with us at Rainforest Alliance for a short period - focused on non-timber forest products - her passion. We can only hope that her family and friends know how deeply we feel sorrow about this loss, and that many of us will continue to focus on the issues and concerns that she was working on. Un abrazo fuerte a todos en este momento tan triste.
Richard Donovan – Rainforest Alliance
Portuguese researcher killed in Brazilian rain forest
Published: September 5, 2006
RIO DE JANEIRO, Brazil
A Portuguese doctoral student researching sustainable development in the Amazon rain forest was found beaten to death in western Brazil, police said Tuesday.
Ex-convict Raimundo Nonato Rocha de Lima, 30, has been charged in the killing of Vanessa Schaffer Sequeira, 36, in the western Amazon state of Acre near Brazil's border with Peru, said Inspector Joao Augusto Fernandes.
Fernandes said police found Sequeira's body on Sunday near a creek outside the remote town of Sena Madureira, some 2,000 miles (3,200 kilometers) northwest of Rio de Janeiro, after friends reported her missing.
He said Sequeira had been badly beaten and forensic examiners were investigating whether she had been sexually assaulted.
Lima recently completed an 11-year prison sentence for homicide in the neighboring town of Boca do Acre, Fernandes said.
"She was in the wrong place at the wrong time," Fernandes said by telephone from Sena Madureira, home to about 40,000 people. "This town is usually very quiet. We haven't had a homicide in six months."
Sequeira was working on a doctorate for Costa Rica's Tropical Agricultural Research and Higher Education Center in conjunction with the University of Wales in the United Kingdom when she was killed. Her research centered on helping poor residents harvest the rain forest's bounty without logging.
"Her focus was to see how people could live in the forest without tearing everything down," said Nathalie Sequeira, the victim's sister, from Innsbruck, Austria. "She spent many years trying to get people to give value to their traditions and things that have worked for many years."
A number of high-profile environmental activists including union leader Chico Mendes and American nun Dorothy Stang have been killed in Brazil's Amazon because of their opposition to powerful logging and ranching interests.
But police said Sequeira's murder did not appear to be linked to any activism.
Source: International Herald Tribune
RELATO AO ITAMARATY
"Senhor Ministro,
Cumpro o dever de informar a Vossa Excelência o trágico e lamentável assassinato da estudante e pesquisadora alemã naturalizada portuguesa Vanessa Anabela Schaffer Sequeira, 36 anos, ocorrido na tarde do último domingo, dia 3 de setembro, no Projeto de Assentamento Joaquim de Matos, situado a 36 quilômetros do município de Sena Madureira - Acre.
Vanessa Anabela Schaffer estava no Acre desde janeiro de 2006, em trabalho de pesquisa para a sua tese de doutorado no Centro Tropical de Investigação e Ensino Agronômico da Costa Rica, em parceria com a Universidade Federal do Acre e, na tarde do dia 3 de setembro, foi vítima de uma brutal agressão por espancamento e asfixia que resultou em sua morte.
Tão logo a autoridade policial do Estado teve conhecimento do desaparecimento da pesquisadora, às 20 horas do dia 3 de setembro, saiu em diligência conjunta da Polícia Militar e da Polícia Civil para a localidade onde se deu o crime, diligência essa que resultou na prisão do suspeito Raimundo Nonato Rocha de Lima, vulgo ‘De Manaus’, ocorrida às 2 horas da manhã do dia 4 deste mês. Com o mesmo foram encontrados objetos que pertenciam à vítima (GPs e outros).
O corpo de Vanessa Anabela foi encontrado cerca de 200 metros fora do ramal (estrada de chão que dá acesso à comunidade) por onde ela haveria de passar em seu trabalho de pesquisa.
Todas as evidências reunidas não deixam dúvida de que Vanessa Anabela foi assassinada por Raimundo Nonato Rocha Lima, que se encontra preso no presídio Evaristo de Moraes, em Sena Madureira, local do crime, onde será julgado e condenado pelo crime praticado.
Quanto às providências relacionadas à vítima, informamos que o corpo está sendo trasladado ainda hoje (dia 5 de setembro de 2006) para São Paulo, de onde seguirá para Portugal para ser sepultado pela família.
Para maiores informações, laudos técnicos e periciais, providências gerais, coloco-me inteiramente à disposição através do telefone (68)........2828.
Atenciosamente,
Antonio Monteiro Neto
Secretário de Estado de Segurança Pública do Acre"
Fonte: Blog do Altino
Nota de um amigo de Vanessa
Com tristeza,
Foster Brown - Universidade Federal do Acre
terça-feira, setembro 05, 2006
Amiga de Vanessa na Costa Rica
Sou carioca, residente na Costa Rica e ex pesquisadora do CPAF Acre. Tive a
oportunidade de estar e conversar com a Vanessa em varias oportunidades, por
diferentes temas e razões. Um tema foi justamente, a escolha do local para o
seu trabalho de campo, visto que eu já tinha morado no Acre. Lembro também de outros vários momentos, na acadêmia, onde ela sempre ia para malhar e estar sempre tão em forma.
Triste saber que isso ocorre no nosso pais e mesmo estando longe, da
vergonha por este crime. Aquí todos estão chocados e como muitos já sabem, a
lembrança de uma Vanessa alegre, comprometida, inteligente e com vontade de
contribuir, e o que todos temos agora. Obrigado pelas suas palavras.
Sinceramente,
Chelsia Moraes F.
Community Base Natural Resource
Management Project Unit Officer (CBNRM-PUO)
San José, Costa Rica
web page: http://www.cuso.ca/
GUERRA SEM TRINCHEIRAS
Por Mary Alegretti em 05/09/2006
Fonte: Amazonia.org.br
O assassinato brutal de uma jovem pesquisadora na Amazônia aguça sentimentos de revolta e impotência. Ela não foi assassinada por conflitos de terra ou desavenças políticas. Ela foi morta mais por ser mulher, estar fora do contexto convencional, e ter encontrado em seu caminho um ser irracional e violento. De pouco adianta questionar autoridades; o indivíduo - em liberdade condicional e que certamente não deveria ter sido solto - já está detido e pouca diferença isso fará no final da história. Ao menos é o que parece.
Vanessa era jovem, 36 anos, portuguesa, já havia realizado pesquisas no Nordeste, na Índia, trabalhado no Peru, na Costa Rica e estava agora pesquisando no Acre. Decidira trabalhar em uma área ainda não estudada, o Projeto de Assentamento Riozinho. Como afirmou Christiane Ehringhaus, (http://reservasextrativistas.blogspot.com) ela tinha uma vida muito rica de experiências e aventuras e quase mudara de rumo antes de decidir retomar as pesquisas e ir para o Acre, como muitos outros pesquisadores vêm fazendo nos últimos anos.
Esse é o perfil de uma pessoa incomum, corajosa e de uma pesquisadora determinada. É o perfil da maioria dos membros da Rede de Pesquisadores em Reservas Extrativistas. Muitos de nós já passaram por situações de risco, encruzilhadas perigosas, oposição da família, dos filhos, dos amigos. No entanto insistimos em seguir o rumo desse caminho.
Que motivos são esses que levam pesquisadores a associar à curiosidade intelectual, a coragem, e deixar trilhas fáceis e já dominadas para ir para o desconhecido e o imponderável? Quantas vezes nos perguntamos - como traduzir o que nos move? É esse sentimento de descoberta, de estar em um lugar onde ninguém antes pesquisou, entrevistar pessoas que nunca conversaram sobre suas vidas e que se percebem falando coisas que nem sabiam que existiam dentro delas.
Somos como os esportistas que buscam a montanha mais alta e os mares mais revoltos; só que o que nos move é visitar a aldeia mais isolada, viajar por rios não navegados, encontrar pessoas não entrevistadas, conhecer culturas não descritas, escrever diários não registrados nas ciências sociais e naturais...
No fundo, porém, o que mais nos motiva - e acho que Vanessa também partilhava essa marca - é a identidade que criamos com as pessoas que pesquisamos e o envolvimento com o futuro que as espera.
Esse sentimento de compromisso com a mudança da realidade investigada é difícil de ser entendido para quem não o conhece. Parece que a Amazônia é um lugar que costuma deixar esse tipo de marca, de forma indelével, em nossas peles. E é uma marca intransferível que quando se instala em nós, não nos dá sossego, não nos deixa em paz, a não ser quando, cansados de lutar contra, deixamos que a coerência tome conta e não procuramos mais parecer igual aos outros, quando de fato não somos.
É esse laço invisível com a realidade que a gente estuda e desvenda, com as pessoas que nos ensinam sobre ela, e com o futuro que imaginamos poder transformar, que nos mobiliza.
A violência política sempre esteve no horizonte de referência de pesquisadores que trabalham em áreas de conflito e em seringais. Mesmo territórios já protegidos como reservas extrativistas e terras indígenas, estão constantemente ameaçados por interesses contrários. Também já presenciamos a violência entre iguais, causada por desentendimentos, ciúmes e brigas e aquela que afeta grupos vulneráveis, como as mulheres.
Mas a violência que acreditamos ser parte do universo urbano, aquela que os sociólogos relacionam com a desagregação familiar das grandes cidades, com o uso de drogas, com a rede de tráfico, essa ainda não cabia no universo da floresta. Para esse tipo de violência as pacíficas comunidades tradicionais não têm a menor proteção, como não teve Vanessa e não terá nenhum dos pesquisadores da nossa Rede Resex.
Vivemos uma saturação de violência em nosso país, uma gratuidade em relação à vida, que é verdadeiramente assombrante. Embora não declarada, é uma situação de guerra. Só que jornalistas, pesquisadores, quando vão cobrir ou estudar uma região em guerra, contam com a proteção da ONU ou do governo, ou de ONGs internacionais. Eles não vão de GPS, computador, caneta, caderno e máquina fotográfica.
Não ser uma pessoa convencional, não pesquisar temas banais, não estar nos lugares seguros que se espera que esteja, arriscar uma aventura pessoal e científica... ao invés de assegurar um espaço de reconhecimento do país e dos pares, acaba se transformando em um risco exclusivamente pessoal contra o qual não há nenhuma instituição a quem se possa recorrer.
Precisamos de um espaço institucional de proteção para que a vida possa continuar entre os que não estão em guerra. É uma medida urgente a ser cobrada do Estado brasileiro antes que a mata amazônica e suas pacíficas comunidades, sejam envolvidas por essa guerra sem trinheiras.
Letter from a Friend of Vanessa
Dear Colleagues,
Below is a letter from a friend from Acre, Cazuza, who is in Florida now to study English. Vanessa was a close friend of his. I had the painful task of telling him what had happened when he was having lunch with other friends.
Incapacity, impotence, sadness, lots of sadness. It is this mixture of sentiments that have taken hold of me this Monday afternoon, when I was struck with the news of the barbarism suffered by my friend, Vanessa Sequeira.
Vanessa, a young 36 year old researcher from Portugal, was brutally murdered while carrying out an important research project which would defend Amazonia and its people.
I met her in February of this year and since then have had a growing friendship with her, a friendship that the physical distance in which we found ourselves for two months was not sufficient to undermine. We seemed to have been connected for many years.
What drew me to her was her immense character, something that seems to me to be losing ground in our society to brutality, to the lack of awareness of life and even to a sense of banality in life.
Vanessa was one of those people with love for their neighbor, with solidarity and a preoccupation for society that should be a guide for all of us in this new millennium.
While a researcher, her primary concern was with the formation of social capital through her work. She always encouraged students and recent graduates to participate in her research, even though she was capable of conducting her research alone. She always sought to give to families in the communities that she visited knowledge that they were capable of improving their lives, even after the conclusion of her research. She always worked in a transparent manner, involving the community and overcoming the most diverse of obstacles that would have made most people desist from the task.
I find myself asking why someone with values such as these, with such motivation and energy to defend just causes such as Amazonia and its people had her life violently ended by such a brutal crime. For how long shall we hear of barbarisms such as this?
I don’t know if some day we will have answers to these kinds of tragedies, but I am certain that there will not be acts such as these that will cause in me the sentiments that I described in the beginning of these lines.
I have faith and conviction that I and many others, that are outraged with the lack of positive values in this millennium, that we will continue doing all that we can to ensure that we will never again be surprised with news such as this.
To you, reader, I ask that you do not lose your capacity for reaction and outrage with the injustices of life. To Vanessa, her family and friends, I wish you great light and that you can find peace in this moment. This is what I can offer while faced with this tremendous sadness.
Cazuza (Eduardo Amaral Borges)
Researcher and Extensionist at PESACRE-Rio Branco, Acre. In the picture above Cazuza and Vanessa are at the Park Chico Mendes in Rio Branco. Cazuza is now on his way to Lisboa to participate on Vanessa’s funeral tomorrow.
VANESSA: A Day in Amazonia
This Tuesday marks Amazon Day, a day for commemorating and celebrating the Amazon region and its people. But today also marks the day that the principal agencies are notifying Vanessa’s family of her death. There have already been many headlines of those killed: rural workers, environmental leaders, and now this year, 2 foreign researchers. When does it end? What can be done? It seems to me that everything is adrift, and the questions that should be raised are not only about immediate justice for the victim, because the criminal will be made a prisoner (and has already been apprehended as a suspect), but instead we need to look at the current crisis of humanity and the cheap value given to human life today in Amazonia and in the country as a whole.
We had several conversations via email before Vanessa left for Acre, and talked about where she was would develop her research in Acre. Vanessa initially wanted to develop her research in both the Chico Mendes Extractive Reserve and in a colonization project in Brasiléia, comparing these models of land-use. Upon her arrival in Acre, she resolved to explore other areas where research was badly needed and instead decided to work in the municipality of Sena Madureira, because it was an area in Acre where little research had been completed regarding the development of non-timber forest products. As a result, Vanessa was the first researcher to develop research on the Riozinho Settlement Project.
My last conversation with Vanessa was via Skype about 2 months ago when she wanted to discuss the questionnaire she would be using in the communities where she was working. We spent about 2 hours talking about her research and life in Rio Branco. She liked to go to the Gameleira on the bank of the Rio Acre, and walk in the park in the early evening. She also liked to stay at home. She told me about the time when while in the field, a burglar broke into her house. Fortunately, she had hidden her laptop, and was very happy upon her return to find that the thief had not found her computer. It amused her, and she relayed this story lightly, laughing a lot. Perhaps I am speaking of this side of the Vanessa I knew, because I do not want to think of the sad news that has been published throughout the newspapers of Brazil today, the day we “commemorate our Amazon Day.” We are so far from having something to celebrate.
Brasil: Ministra lamenta morte de investigadora portuguesa
É lastimável. Temos informações de que não se trata de um crime ambiental, mas, qualquer forma de violência que afecte os direitos humanos é inaceitável», afirmou a ministra à Agência Lusa.
As investigações iniciais apontam como suspeito do homicídio um homem que estava em liberdade condicional, após cumprir uma pena de dez anos de prisão por um crime semelhante.
Apesar de o crime aparentemente não se relacionar com problemas ligados à terra e ao meio ambiente, organizações ambientalistas consideraram a morte da pesquisadora como resultado da violência na região Amazónica.
«A violência na Amazónia é mais um elemento de um processo histórico de descontrolo que acontece na região. A ausência total do Estado na região faz com que haja uma sensação de impunidade», afirmou à Lusa a ambientalista Adriana de Carvalho Ramos, do Instituto Socioambiental, organização não governamental fundada em 1994.
Segundo Adriana Ramos, os trabalhadores rurais da região e a população ribeirinha ficam expostos a essa violência no dia-a-dia.
«Deveria haver uma iniciativa de pensar na Amazónia como uma questão de interesse nacional. Mas a região ainda é vista como longínqua e as iniciativas de colocar polícias e agentes públicos na Amazónia são muito pontuais e não conseguem conter a violência», acrescentou.
A pesquisadora portuguesa Vanessa Cerqueira, de 36 anos, foi morta no domingo, num pequeno riacho de um local conhecido como Toco Preto, a cerca de 50 quilómetros de Rio Branco, capital do Acre.
O corpo de Vanessa foi encontrado por polícias, na sequência de um alerta da professsora Elizandra Moura de Lima, da Universidade Federal de Acre, que ajudava a investigadora portuguesa nos seus trabalhos de pesquisa.
Segundo as investigações policiais, a investigadora terá sido violada antes de ser morta com vários golpes na cabeça.
Fonte: Diário Digital / Lusa